Uma nova Energia para a Economia

A crise financeira vivenciada atualmente pode impulsionar investimentos em fontes de energia renováveis. E isso não é mero otimismo desse autor.


No dia 28 de março deste ano, das 20h30 às 21h30 horas pelo horário de Brasília, se realizou a Hora do Planeta (Earth Hour), promovida pela primeira vez no país pelo WWF-Brasil. Com o ato simbólico de apagar as luzes por sessenta minutos, os organizadores têm o interesse de alertar a população sobre os efeitos decorrentes do aquecimento global e das mudanças climáticas.

anunciei anteriormente que 2009 traria repercussões de grande porte provenientes das nossas práticas anteriores, uma vez que estamos num ano que sofre com a crise econômica mundial. O movimento da Hora do Planeta vem nesse sentido. Conforme já fiz menção, o fato de ocorrer a crise pode servir como meio propulsor para o debate da temática ambiental. Digo isso porque em busca de melhorias na saúde financeira de seus países, os governos e grandes investidores tendem a buscar alternativas ao modelo vigente e que tenham melhor custo-benefício.

Investimentos no setor energético já se tornaram temais centrais. Organismos internacionais já alertam que a dependência por petróleo e carvão (que são altamente poluentes e que estão se tornando cada vez mais caros) está provocando a intensificação do efeito estufa, o que não é das melhores notícias. Então as alternativas – como fontes sustentáveis e renováveis – trariam melhorias como a criação de empregos, movimentação de capital, redução de custos e potencialização dos lucros, além de atenuar os impactos ambientais.

Reaquecendo a economia global e tirando todos do colapso ambiental, o desenvolvimento de tecnologias para a geração de energia limpa é promissor. Seria o marco necessário do término de uma Era Negra para o início de uma Verde. A sociedade, assim como a prática dos mercados, mudou. Não basta somente consumir produtos, interessa cada vez mais aos cidadãos a origem, os processos de produção e destinação, a relação com o meio-ambiente e os valores éticos que configuram a comercialização desses produtos. Preza-se pelo comprometimento social que as entidades possuem nas ações com o público, e maior valor ainda para a proteção ambiental.

Na data em que o autor desse blog comemora aniversário, e já caminha o Grãos de Areia para seu primeiro ano de existência na web, prefiro crer que na intensificação dessa realidade, com a qual se pode ser capaz de promover desenvolvimento não só econômico, mas, principalmente, humano, que é o almejado por todos nós. Acenda essa Luz!

A Lei Divina e a dos Homens II

Na ponderação de valores, não há sobreposição de nenhum deles, mas a harmonização entre eles. Talvez seja isso que muitos não enxergam.


Há pouco tempo fomos tomados pela notícia de que em uma cidade nordestina uma equipe médica realizou um aborto numa garota de nove anos de idade, com o consentimento da sua representante legal (a mãe da garota). O fato causou polêmicas ao levantar a temática, uma vez que a prática abortiva não é vista com bons olhos pela sociedade. Religiosos logo se inflamaram em acusações, lembrando que tal ato é considerado pecado capital.

Na postagem anterior, ao me referir à Revolução Islâmica, comentei que ‘o erro dos fundamentalistas é confundir os ensinamentos religiosos (A Lei Divina), com a legislação estatal, que deve ser laica, separada das crenças da coletividade’.

O que deve ser levado em consideração é o direito à vida da criança que estaria por nascer do ventre da garota, ou o direito da própria menina, que passava por riscos decorrentes da gravidez, ou ainda que assim não fosse, iria passar a vida maculada por ter sofrido um estupro? Não podemos tomar decisões analisando os fatos restritivamente, de forma isolada, mas sim em seu conjunto e ponderando nossas reflexões.

Não existem direitos absolutos em nossa sociedade e ordenamento jurídico. O que se realiza se fundamenta em decisões que abrange princípios gerais que servem de critério para a compreensão do sistema, mas de forma a definir uma harmonia entre as normas produzidas.

Relativizar nossas condutas e posições não é demonstrar que somos carentes de postura firme e de ideologias (inclusive religiosas). A veracidade decorre justamente analisando fatos de forma sistemática, dando-lhes lógica, é que realmente passamos a sermos críticos de nós mesmos. Revendo nossos pensamentos e aceitando melhor as condições que nos são apresentadas.

A garota vítima de seu próprio padrasto possui antes de outra medida o direito a ter uma existência digna e que possa ela definir os traços que devem guiar sua vida. Ao criminalizar a conduta da mãe da garota e da equipe médica, se está a ferir valores que consideramos – ou que antes julgávamos que considerávamos – como fundamentais à pessoa humana.

Criticamos muitas vezes posições alheias, como de alguns islâmicos que interpretam literalmente seus textos sagrados, mas em muitos momentos a sociedade a nossa volta pratica condutas semelhantes. E nós que pensávamos que fundamentalistas eram os outros...

A Lei Divina e a dos Homens

Um marco na História, a Revolução Islâmica de 1979 inverteu concepções que a sociedade ocidental forjou a partir do século XVIII, primando pelo retorno de antigos valores. Três décadas que assinalam um endurecimento como estratégia de defesa.

Liderados pelo alto clero, os iranianos derrubaram uma monarquia pró-ocidente e instituíram uma república islâmica de esmagadora maioria xiita. Sua doutrina tem hoje por fundamento a interpretação literal dos livros sagrados – rejeitando valores como igualdade entre os sexos, obrigando mulheres a cobrir o rosto, a defesa do patriarcalismo – que, aos olhos das sociedades mais progressistas, é tido como um retrocesso cultural.

Defendo o direito de autodeterminação dos povos, mantendo a prerrogativa de que todo agrupamento social deve manter laços culturais próprios e constituir um governo soberano, que reja por sí só e seja independente. No entanto, tal direito não elimina a autodeterminação dos indivíduos em sua singularidade.

Acredita-se que esse fenômeno de expansão do fundamentalismo religioso se dê como forma de reação a governos corrompidos. Pois o que se viu no Irã se espalhou por outros países, que vivem hoje também situações semelhantes. O apelo se dá naquelas populações cujo ressentimento pelas privações sofridas leva à disposição de enfrentamento daqueles que estão globalmente incluídos. O que não é de todo errado, uma vez que assim como os EUA nomeia o Irã como alinhado ao ‘eixo do mal’, devendo ser afastado das relações internacionais, as sociedades orientais se sentem marginalizadas do processo de inclusão social em seus respectivos países. O apego à religião é visto então como uma alternativa de resistência.

Só que o erro dos fundamentalistas é confundir os ensinamentos religiosos (A Lei Divina), com a legislação estatal, que deve ser laica, separada das crenças da coletividade. Pregar que os dogmas de seus livros sagrados sejam seguidos de forma irrestrita é fazer com que aqueles que não estão em conformidade de pensamento sejam reprimidos dentro do grupo. O governo teocrático iraniano (na qual a autoridade máxima é um chefe religioso) com seu ‘monopólio da verdade’, não enxerga na população a liberdade religiosa, ou mesmo em sentido mais amplo, as garantias fundamentais inerentes a todos os indivíduos.

O entrave é, deste modo, político, não religioso. Com um governo centralizado, avesso à oposição política, a discussão entre a população é abafada, e a prática populista dos líderes se consolida. Sabemos que nem todo muçulmano é um fundamentalista radical, mas a permanência da autoridade islâmica como está no Irã cria a sensação de que pouco irá mudar. Assim, o temor criado pelo terrorismo, esse novo fantasma para o século XXI, assombra os demais povos. Estamos apenas esperando uma oportunidade para o diálogo.

Imagem: The Associated Press

Pax Americana

Passado o prazo de 48 horas dado pelo governo Bush para que Saddam Hussein abandonasse o país, os Estados Unidos iniciam o bombardeio ao território iraquiano em 20 de março de 2003, a ofensiva gera uma guerra que ainda não acabou.


Com uma grande imagem negativa e sem mais recursos para manter a situação, o governo norte-americano revê a sua atual estratégia de política externa. E, talvez, com bom senso. A “Era Bush” foi marcada por manter uma postura que não é inédita na história. Muito utilizada por seus precedentes, George W. Bush procurou estabelecer a posição hegemônica dos EUA nas relações internacionais tendo como alicerce uma postura agressiva e militarista.

Durante muitos anos sua centralização era notória, mas teve que arcar sua influência sob forte tensão internacional. Mas chega um momento que as tensões se desdobram em crises e conflitos. O modelo agora já demonstra sinais que está desgastado e ultrapassado. Enfraquecido e endividado, os EEUU terão recuam em sua posição de dianteira, uma vez que necessitando de colaboração, não podem ignorar a política de seus parceiros.

A Guerra no Iraque tem sido o maior desastre para a Casa Branca após o Vietnã. Mas com a recente notificação de Washington de mudança na abordagem diplomática, busca-se a possibilidade de reverter esse quadro.

Uma alternativa seria a total retirada das tropas do Iraque, mas isso geraria um conflito que poderia desencadear uma guerra civil pela disputa do poder entre os grupos mais radicais e fundamentalistas. Assim como sustentar as tropas como estão, ou reforçar a ocupação também não é uma boa opção. O governo norte-americano não possui mais recursos para tanto. Principalmente em época de crise, na qual o governo está gastando sua verba internamente, como consta no pacote de ajuda financeira aprovado pelo Congresso para salvar o sistema bancário.

Com isso, possivelmente o mais acertado seja mesmo um processo gradativo de retirada de tropas, conforme o encontrado pelo novo presidente: trocar as funções dos soldados americanos no Iraque, transferindo-os das tarefas de combate para defesa de autoridades e diplomatas, além de apoio e formação das tropas iraquianas. De modo que diminuindo as tropas no país e transferindo a responsabilidade para as mãos dos próprios iraquianos que se dará efetivamente a possibilidade do povo conduzir o seu governo, sem ingerência estrangeira.

Agora temos prazo para acabar a guerra, e parece que ele corre a nosso favor. Assim como o anterior foi impecavelmente cumprido, que esse agora também o seja. Afinal, a pretensa estabilidade e paz procurada durante o período anterior nunca ocorreu definitivamente. Esperamos por ela agora.

Imagem:Abduzeedo

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