Ecologia, apenas uma gravura na parede

Grão lançado ao ar por All3X às 18:50 de domingo, 18 de outubro de 2009

O que ficará  gravado para a história...

Muito ainda se especula sobre o aquecimento global. Alguns questionam sua própria existência, tal como ainda há aqueles que relutam em afirmar que o homem não pisou na Lua naquele julho de 1969. Outros não o negam, mas insistem que se deve exclusivamente ao ciclo natural de oscilações de temperatura do globo. Entre céticos e alarmistas, encontrar aquele que mais provavelmente esteja com a razão, já se torna uma questão de juízo crítico.

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A relação das sociedades em geral com o ecossistema, como percebido no decorrer da história, sempre foi muito íntima e frágil, como nos revela o exemplo da cultura romana, que possuía verdadeiro fascínio pelo ambiente natural. Pioneiros no trato com plantas e animais, os romanos chegaram a se dedicar com zelo na criação tanto de animais domésticos quanto de selvagens. Por muitas das vezes, os fins eram apenas por questões de ornamentação. Manter animais exóticos no lar era algo muito bem visto pela comunidade. Tanto é assim que se deve a eles a invenção da piscina, que como o próprio nome já pode nos revelar, destinava-se aos peixes.

O ápice, contudo, era dedicado no cultivo de áreas verdes. Classes mais abastadas de Roma e de suas principais províncias, de modo muito peculiar, chegavam a se permitirem em ostentar verdadeiros jardins em seus lares, tanto os interiores quanto os externos. De fato, construíam suas residências de tal modo que os cômodos ficassem dispostos a circundarem o jardim particular, que era visto como a parte central e de destaque da casa. A importância era tamanha que, inclusive, muitos dos cômodos ganhavam pinturas com temas inspirados nessas representações para prolongar e ampliar sua beleza.

Pintura numa residência em Pompéia A natureza como simples pano de fundo.

Como percebemos, a beleza clássica sempre esteve ligada a essa proximidade com o meio ambiente. Mas tudo não passava de uma questão estética e superficial. Ao mesmo tempo em que nutriam o desejo de contato com a fauna e flora, os romanos levavam a efeito uma prática predatória severa. Podemos citar a larga utilização de muitos animais, como leopardos, girafas e elefantes, em diversos espetáculos nas arenas de luta, o que ocasionou o extermínio de algumas espécies em determinadas regiões.

A natureza era vista como mero adereço na decoração ou no lazer. Afirmação essa que pouco se modificou com o passar do tempo. A sua única função, vista por muitos, seria a de se submeter à satisfação dos nossos desejos e interesses. Negar hoje que as alterações sofridas no meio ambiente não se devem em nenhum grau pela intervenção humana é o mesmo que considerar que Roma não foi culpada, por exemplo, pela extinção de leões na região do Oriente Médio.

Simplismo é afirmar que aqueles que discutem sobre os graves impactos ambientais apenas difundem um ecoterrorismo apocalíptico, de modo que suas ideias são execráveis. Desincumbir a espécie humana de culpa é convalidar o atual status quo, é consentir que continuemos com os mesmos hábitos de consumo, que não seriam de nenhuma maneira, e em qualquer hipótese, considerados nocivos ou insustentáveis. Por mais que ainda existam algumas dúvidas não explicadas e questões ainda não comprovadas pela ciência sobre as atuais alterações climáticas que estão ocorrendo, provas científicas já nos revelam um número maior de certezas sobre as perigosas consequências do aquecimento global, que por mais que possa ser um desdobramento natural, foi intensificado, ao menos, por nossas próprias práticas de vida.

Penso eu que quando você é uma voz isolada na multidão afirmando algo, talvez esteja você errado. Mas quando outras tantas vozes afirmam em sentido semelhante à sua, é mais provável que seja você o possuidor da razão. Mas tal argumento não é suficiente, as multidões também podem representar um juízo de pequeno valor. Mas se um grupo de cerca de 2 mil renomados cientistas, oriundos de mais de 100 países chegam a um consenso sobre o tema, a confiabilidade aumenta exponencialmente. Segundo o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (na sigla em inglês, IPCC), o aquecimento global já é uma realidade e os efeitos negativos já são claramente perceptíveis.

Fenômenos meteorológicos incomuns e extremos aumentam de frequência e/ou intensidade. Inundações, enxurradas, vendavais e deslizamentos de encostas se tornam mais um grave problema às populações, como percebido nos exemplos das recentes tempestades no Maranhão e Santa Catarina, assim como na região Amazônica, a qual já passou em 2005, paradoxalmente, a seca mais severa – numa estimativa de 100 anos. Creio eu que não se trata de pura histeria ecológica.

Diante desse evento inexorável, de difícil reparação, o mínimo que devemos adotar são medidas de mitigação do impacto humano para reduzir os riscos sobre os ecossistemas. Desenvolver políticas públicas entre governos, o setor privado e a sociedade civil organizada é uma questão de urgência tendo em vista a necessária adaptação às mudanças. Ou façamos isso enquanto ainda nos resta tempo, ou, quando formos também apenas umas simples pinturas gravadas na parede da história, coloque-me, ao menos, num canto da sala de estar.

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1 Comentário

  1. Anônimo
    disse:
    Postado em sábado, março 13, 2010 9:12:00 PM

    Bacana o blog e também esse post. A necessidade de se desenvolver políticas públicas a partir de uma reorientação do modelo associado de crescimento e desenvolvimento econômico stricto sensu é fundamental,ponto interessante, inclusive, para se repensar o modelo de uma economia exógena ao ecossistema para uma economia ecológica. Essa mudança, que acredito ser gradual, é fundamental para se investir em políticas de adaptaçao e mitigação das mudanças ambientais locais, regionais e globais.
    Tenho um blog onde procuro escrever um pouco sobre uma variedade de temas, que vão da Política Internacional às Políticas Públicas, Economia Política e Economia Ecológica. Proponho que estendamos uma parceria entre os blogs. Ai vai o link http://poliarquias.wordpress.com/
    Abraços!

     

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