Brasília 50 anos - O que devia ser e não foi

50 anos buscando construir um país em meio ao sertão

De mudança para a cidade que se tornara a nova capital do país, numa região inóspita e despovoada, em frente ao prédio que viria a ser a sede do Poder Executivo do Governo Federal, que mais se assemelhava àquele momento a um imenso barracão em meio a um canteiro de obras, a primeira-dama, em espanto, numa confissão que muito bem exprime não só o então ambiente da época, mas também o vindouro, declara: "A nova capital de uma nação sendo construída por escravos meio mortos de fome. O que de bom pode sair deste lugar?". Bem poderíamos estar narrando a inauguração de Brasília - celebrada neste dia 21 de abril, em ano de seu cinquentenário de fundação, mas o trecho citado é de Abigail Adams, esposa do 2º presidente norte-americano, John Adams.

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"Enquanto isso, Brasília é o sorvedouro da renda nacional, suor e sangue de um povo empobrecido para que resplenda esse reinado da encarnação republicana de Luís XIV."

Com a pretensão de difundir uma imagem de modernidade nacional, estampada na arquitetura arrojada da futura capital, mas consubstanciada em seu programa de governo (o famoso Plano de Metas - de slogan “50 anos em 5”), Juscelino Kubitschek prometia um salto da economia, num único mandato, meio século à frente na história. Seu projeto político, contudo, era altamente precário. Não bastou uma relação de 30 prioridades espalhadas nas áreas de energia, industrialização, transportes, alimentação e educação, sem que houvesse arrecadação de fundos para seus planos audaciosos.

Ao tempo em que Brasília se desenvolvia, crescia também os empréstimos e financiamentos externos, que eram vultosos e inflacionários. Estima-se que a construção do Distrito Federal, aos moldes dos Estados Unidos, tenha custado ao erário público cerca de 2% a 3% do PIB (Produto Interno Bruto) nacional ao longo dos quatro anos de obras. Em valores atuais, esse montante representaria um investimento de 6 a 10 bilhões de reais por ano, valor semelhante ao Orçamento anual da cidade do Rio, calculado em 8 bilhões de reais em 2003. Em suma, nossa dívida externa deve, em muito, à construção da nova capital federal, o que fariam os juros atuais também serem menores.

Brasília - 50 anos... Vista aérea da Praça dos Três Poderes. Brasília, 1960. Foto: Marcel Gautherot/IMS.

A primeira constituição republicana, datada de 1891, já continha um artigo que prescrevia: "Fica pertencendo à União, no planalto central da República, uma zona de 14 400 quilômetros quadrados, que será oportunamente demarcada para nela estabelecer-se a futura Capital federal". Ambição antiga de estadistas brasileiros anteriores, mas que por inúmeros obstáculos de ordem política, econômica ou logística retardaram o projeto. Já na década de 50, após 41 meses de trabalho, mobilização de 65 mil operários e 365 viagens do presidente para acompanhar de perto as obras, que as tinha como sua prioridade de governo, Juscelino, ao centro da Praça dos Três Poderes, finalmente inaugura Brasília naquele dia 21 de abril do ano de 1960.

Atualmente, a cidade possui o segundo maior PIB per capita do Brasil (R$ 40.696,00) entre as capitais, superada apenas por Vitória (R$60.592,00), mas ela que estava planejada para abrigar 500.000 pessoas, agora se estima que sua região metropolitana já contenha praticamente 5 vezes a mais este número, ocasionando uma série de gravames sociais na região circunvizinha, nas chamadas “cidades satélites”.

Em ano de corrida eleitoral, neste cenário constante de acirradas disputas políticas, depositamos o desejo de uma saudável discussão de programas de governo não apenas dos candidatos presidenciáveis, assim como dos candidatos aos demais cargos eletivos, tal como também se espera o discernimento crítico dos eleitores, que irão exercer mais este ato de cidadania que se materializa nas votações.

Agora, o que de bom realmente se realizou nessa cidade? De efetivo, o que temos é que, logo após o dia da inauguração, o primeiro ato do então presidente do Senado, Filinto Müller, foi a aprovação de um recesso de 30 dias, devido à falta de condições de trabalho e de moradia na cidade, que continuava sendo apenas um canteiro de obras erguido por uma população miserável e marginalizada.

"Nestes muitos anos, cheguei à conclusão de que um homem inútil é uma vergonha, dois são uma firma de advocacia, e três ou mais são um congresso".
John Adams.

2009 - Quando o Pouco se tornou Muito

Porque 2009 foi um bom ano...

O ano de 2009 tinha tudo para ser apenas o ano que estaria entre 2008 e 2010, no simples intervalo do desencadeamento uma crise econômica global e o desdobrar-se da corrida presidencial, respectivamente. Mas não, 2009 foi mais promissor que as expectativas.

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Por mais que contrariasse o pronunciamento do presidente, a crise chegou ao Brasil sim. Setores da economia amargaram quedas nos lucros, houve demissões e a renda do brasileiro caiu. No entanto, embora o crescimento do PIB deva ficar em torno de zero, a economia nacional retorna aos indicadores anteriores do período da crise, e para 2010 já está previsto crescimento de 5% anual.

O segundo semestre do ano, sobretudo, foi marcadamente em alta. Enquanto o sistema bancário norte-americano despencou, o brasileiro não sentiu os mesmos efeitos. Tanto corrobora o fato é que, ao passo em que o Lehman Brothers ia à falência em 2008, o Itaú e o Unibanco anunciavam sua fusão logo após, formando o maior grupo financeiro do Hemisfério Sul, e os balanços trimestrais, não só bancários, como de outros setores durante 2009, só tenderam ao positivo e a Bovespa registrava marcas históricas de crescimento.

Os idos de 2009 Por mais suprficial que seja o olhar, ainda dá para o considerar como um ano satisfatório.

Os velhos conflitos internacionais perduram. A crise da Coreia do Norte, assim como a questão do Irã, permanece em aberto, na qual esses países, além de manterem regimes políticos fechados, persistem em levarem adiante projetos de melhoramento de urânio ou de armas de longo alcance – o que demonstra que, mesmo quando comemoramos os 20 anos da queda do Muro de Berlim, um marco do fim da Guerra Fria, a tensão que envolve as armas nucleares e uma provável corrida belicista ainda nos espreita de perto.

Mas podemos respirar um pouco aliviados, mesmo sem deixar de prestarmos vigilância, pois os mecanismos diplomáticos ainda nos são muito úteis. No golpe militar ocorrido em Honduras, a exemplo, tal como há o intento quanto ao Irã e Coreia, se buscou utilizar medidas conciliatórias entre os envolvidos para melhor se chegar a uma conclusão satisfatória a todos. A América Latina, como observado, já caminha a bons passos, pois mesmo nesses entraves como em Honduras, não foi intencionado pela comunidade internacional uma intervenção militar na área – o que não costuma ser uma medida aprazível.

Num olhar rápido, breves foram minhas considerações, mas já considero o suficiente para comemorar os bons frutos que 2009 rendeu. O ano foi decisivo para os delineamentos que esperamos para 2010. Agora é continuar trabalhando satisfatoriamente.

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